A Farsa dos Juros no Controle da Inflação

Temos um câncer no nosso cérebro. Medo da inflação. Visão de que a inflação é um impeditivo ao crescimento econômico e ao progresso. Compreensão de que para combater a inflação precisamos, infelizmente, usar a cocaína dos juros altos. Tudo mentira e alucinação. Vamos aos fatos.

Não há correlação entre inflação abaixo de 40% ao ano e crescimento econômico demonstrado em análise de dados de 1960 a 2014 de vários países em crescimento em nosso post Crescimento com inflação. O que se percebe nos dados é que economias bem organizadas possuem inflação baixa. O que faz bastante sentido porque inflação não é interessante, desde que não prejudique o crescimento. Crescimento vem em primeiro lugar (melhoria de vida) e inflação em segundo. Bom é inimigo do ótimo.

A inflação é uma variável importante de mercado, do sistema econômico, para equilibrar oferta e demanda. Se houver demanda e não houver oferta suficiente para atendê-la, os preços sobem para incentivar os empresários a aumentar a produção. Preços sobem, aumentam os lucros, sobram recursos para investimento, empresários investem, geram empregos, pagam mais tributos. É um ciclo fortalecedor que melhora a vida de um país. Inflação de demanda aumenta lucro, aumenta tributo, aumenta emprego, aumenta o ganho real de um trabalhador por ele se tornar o recurso escasso na economia para atender uma demanda crescente. Todos ganham se visto o sistema como um todo.

No Brasil matamos este ciclo fortalecedor através de juros altos. Processo no qual só o sistema financeiro e os rentistas ganham. O recurso escasso ao invés de ser o trabalho torna-se o capital por ficar muito caro. Brasil entra em depressão de 3,8% e o lucro dos bancos aumenta em 15%. Esta estratégia de juros altos gerou prejuízo de R$1,7 trilhões a nossa economia conforme nosso post O aumento dos juros e a Depressão do Brasil.

Gastamos R$500 bilhões em juros em 2015. Se considerarmos que metade dos trabalhadores brasileiros mais pobres (que talvez não tenham remuneração indexada), algo por volta de 50 milhões, pagaram R$10.000/ano. E que a renda média destes trabalhadores seja de R$50.000/ano. Eles pagaram 20% da remuneração deles para ter uma inflação de 10% ao invés de 20%. Péssimo negócio para os trabalhadores. Excelente negócio para os rentistas. Péssimo negócio para o país.

Esta situação é vergonhosa. Se imaginarmos que convivemos com os juros exorbitantes desde o Plano Real, são mais de 20 anos. Provavelmente estamos falando de R$10-20 trilhões de perdas econômicas neste período. Para um país pobre como o nosso, o custo de oportunidade social é muito grande. Imagine como seria nossa infra-estrutura social com estes recursos a mais: hospitais, escolas, estradas, ferrovias e saneamento. Viaje para a China e verá com os próprios olhos.

Estamos neste “mato sem cachorro” por um de dois motivos: inépcia ou má fé. Temos 9 membros no Copom decidindo a política de juros com orçamento de “cheque em branco” de R$500 bilhões por ano. Faça sua aposta em nosso post Bolão do Copom: corrupção?.

Temer deverá estar assumindo nas próximas semanas. O Brasil está unido em torno de uma causa como nunca esteve antes. O sistema judiciário acordou e deixamos para trás o país da Lei de Gerson. Vamos conviver com a inflação de maneira inteligente criando uma clara prioridade social pelo emprego? Vamos engajar o Brasil na economia mundial com contribuições mais significativas do que recursos minerais e agrícolas? Vamos acabar com a miséria e ter orgulho de nosso povo e comunidade? Vamos ser responsáveis pela evolução deste novo Brasil consertando os erros do passado? Que legado vamos deixar para os nossos filhos?

 

Publicado por

Eduardo Giuliani

Edu é místico* e empresário nos setores de agronegócio, bioenergia, venture capital e imobiliário. Trabalhou como consultor pela McKinsey & Co. (1991-97) e investidor pela Advent International (1998-99). Iniciou estudos sobre crescimento econômico em 1994 com o Curso National Economic Strategies de Bruce R. Scott na Harvard Business School (Membro do U.S. Competitiveness Policy Council). Cursou System Dynamics no MIT (1994). Liderou trabalho de produtividade em Telecomunicações e Construção no McKinsey Global Institute (1997). Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP (1989). MBA pela Harvard Business School (1995). Tenente da Reserva do Exército (1985). Casado. Três filhos. Tri-atleta. * místico é uma pessoa que aborda os mistérios da vida através do método científico, sem aceitar dogmas e ideologias. Método científico sendo o processo de fazer análises de evidências empíricas sem ter conflito de interesse.

2 comentários em “A Farsa dos Juros no Controle da Inflação”

  1. Bom dia Giuliani!
    Tentei postar algumas vezes em outro texto, mas algo impediu.
    Com certeza estudei bem menos que tu, para chegar as mesmas conclusões. O único ingrediente que falta no teu raciocínio é não questionar é o meio pelo qual tudo isto se propõe.
    Nao adianta tirar o sofá da sala! Tem que auditar a divida publica! Os rentistas acabaram de dar o golpe, quer vc aceite ou nao.
    Ou faz isto, ou resigna! Entrega de vez a chave! Anexa, e pelo menos assume que é colônia.
    Abço!

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