A economia brasileira vai produzir (PIB) o quanto o mercado estiver disposto a comprar. A previsão de crescimento vem da demanda agregada, não da oferta. Ninguém produz para deixar parado em estoque se não há comprador.
A demanda agregada definida por Keynes tem 4 componentes que precisam ser analisados para a previsão de crescimento:
- Consumo doméstico: poder de compra vai cair porque o desemprego deve subir para 14%. Desemprego só cai quando o país cresce pelo menos 2% ao ano, acima de um certo ‘ganho natural’ de produtividade. Adicionalmente com o real se valorizando vamos importar mais e reduzir o emprego
- Consumo externo: com o câmbio flutuante e a força de nossas commodities agrícolas a tendência é do real se valorizar (doença holandesa) e vendermos menos para o mercado externo
- Investimento privado: a valorização do real diminui o lucro dos empresários e a queda do consumo diminui a perspectiva de fluxo de caixa; a redução dos juros pode melhorar um pouco, mas não o suficiente no ritmo anunciado
- Investimento público: déficit nominal previsto para 6-10% ao ano, com esta redução lenta dos juros, não gera poupança fiscal para investimentos
Em resumo, só temos elementos negativos na perspectiva da demanda agregada com a atual política macro-econômica. Em 2015 e 2016 tivemos 10% de déficit nominal resultando em PIB de -3,8% e -3,5%. Por que seria diferente em 2017? Os juros reais continuam em patamares exagerados, temos o déficit nominal irresponsável e o câmbio flutuante com doença holandesa se fortalecendo com a elevação do preço das commodities.
Adicional à inépcia macro-econômica temos a continuidade das descobertas de corrupção no Executivo e no Legislativo demonstrando extrema instabilidade política. E alguns elementos do STF tentando colocar toalhas quentes e alongar a situação de Impunidade. Não consigo ver nenhum cenário positivo até termos um novo poder Executivo eleito democraticamente com clara prioridade para agenda de emprego.
Neste contexto pergunto-me por que todos os analistas fazem projeções econômicas com base em nível de confiança, credibilidade e política, sem levar em consideração os dados econômicos que realmente afetam as decisões de investimento dos empresários criadores de empregos? A única notícia positiva que consigo imaginar é a cassação mais rápida da chapa para voltar a esperança de mudança de política macro. O país está sangrando.
Giuliani,
A questão do câmbio é realmente central, inclusive é o ponto do Prof Bresser Pereira que sugere um imposto sobre as exportações de commodities (ele parte da constatação de que historicamente nosso câmbio é aquele de equilíbrio para as commodities. Assim, um imposto sobre as exportações de minério e grãos, por exemplo, tenderia a elevar o câmbio para um novo ponto de equilíbrio, beneficiando o desenvolvimento industrial, sem prejudicar as exportações).
No curto prazo, parece-me que o melhor que podemos fazer é de algum modo provocar nas pessoas – em particular nos economistas formadores “de manada” – uma reflexão sobre o atraso que provoca cada vez que se associa um Real desvalorizado com algo ruim para o país.
Até entendo a lógica populista de defender um câmbio sobrevalorizado, mas ela é só isso mesmo: populista.
Sds
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É isto mesmo, Medina. Contudo o ponto ideal do câmbio é acima do novo equilíbrio que teríamos com a criação do imposto sobre exportação de commodities agrícolas e minerais. Este imposto pode eliminar o efeito de doença holandesa, contudo temos que ir além disto e garantir a competitividade econômica internacional que acelera a industrialização. Este nível é calculado hoje em R$8,8. Abs, EG
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