2017: PIB – 3%; desemprego a 14%

A economia brasileira vai produzir (PIB) o quanto o mercado estiver disposto a comprar. A previsão de crescimento vem da demanda agregada, não da oferta. Ninguém produz para deixar parado em estoque se não há comprador.

A demanda agregada definida por Keynes tem 4 componentes que precisam ser analisados para a previsão de crescimento:

  • Consumo doméstico: poder de compra vai cair porque o desemprego deve subir para 14%. Desemprego só cai quando o país cresce pelo menos 2% ao ano, acima de um certo ‘ganho natural’ de produtividade. Adicionalmente com o real se valorizando vamos importar mais e reduzir o emprego
  • Consumo externo: com o câmbio flutuante e a força de nossas commodities agrícolas a tendência é do real se valorizar (doença holandesa) e vendermos menos para o mercado externo
  • Investimento privado: a valorização do real diminui o lucro dos empresários e a queda do consumo diminui a perspectiva de fluxo de caixa; a redução dos juros pode melhorar um pouco, mas não o suficiente no ritmo anunciado
  • Investimento público: déficit nominal previsto para 6-10% ao ano, com esta redução lenta dos juros, não gera poupança fiscal para investimentos

Em resumo, só temos elementos negativos na perspectiva da demanda agregada com a atual política macro-econômica. Em 2015 e 2016 tivemos 10% de déficit nominal resultando em PIB de -3,8% e -3,5%. Por que seria diferente em 2017? Os juros reais continuam em patamares exagerados, temos o déficit nominal irresponsável e o câmbio flutuante com doença holandesa se fortalecendo com a elevação do preço das commodities.

Adicional à inépcia macro-econômica temos a continuidade das descobertas de corrupção no Executivo e no Legislativo demonstrando extrema instabilidade política. E alguns elementos do STF tentando colocar toalhas quentes e alongar a situação de Impunidade. Não consigo ver nenhum cenário positivo até termos um novo poder Executivo eleito democraticamente com clara prioridade para agenda de emprego.

Neste contexto pergunto-me por que todos os analistas fazem projeções econômicas com base em nível de confiança, credibilidade e política, sem levar em consideração os dados econômicos que realmente afetam as decisões de investimento dos empresários criadores de empregos? A única notícia positiva que consigo imaginar é a cassação mais rápida da chapa para voltar a esperança de mudança de política macro. O país está sangrando.

 

 

Publicado por

Eduardo Giuliani

Edu é místico* e empresário nos setores de agronegócio, bioenergia, venture capital e imobiliário. Trabalhou como consultor pela McKinsey & Co. (1991-97) e investidor pela Advent International (1998-99). Iniciou estudos sobre crescimento econômico em 1994 com o Curso National Economic Strategies de Bruce R. Scott na Harvard Business School (Membro do U.S. Competitiveness Policy Council). Cursou System Dynamics no MIT (1994). Liderou trabalho de produtividade em Telecomunicações e Construção no McKinsey Global Institute (1997). Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP (1989). MBA pela Harvard Business School (1995). Tenente da Reserva do Exército (1985). Casado. Três filhos. Tri-atleta. * místico é uma pessoa que aborda os mistérios da vida através do método científico, sem aceitar dogmas e ideologias. Método científico sendo o processo de fazer análises de evidências empíricas sem ter conflito de interesse.

2 comentários em “2017: PIB – 3%; desemprego a 14%”

  1. Giuliani,

    A questão do câmbio é realmente central, inclusive é o ponto do Prof Bresser Pereira que sugere um imposto sobre as exportações de commodities (ele parte da constatação de que historicamente nosso câmbio é aquele de equilíbrio para as commodities. Assim, um imposto sobre as exportações de minério e grãos, por exemplo, tenderia a elevar o câmbio para um novo ponto de equilíbrio, beneficiando o desenvolvimento industrial, sem prejudicar as exportações).

    No curto prazo, parece-me que o melhor que podemos fazer é de algum modo provocar nas pessoas – em particular nos economistas formadores “de manada” – uma reflexão sobre o atraso que provoca cada vez que se associa um Real desvalorizado com algo ruim para o país.

    Até entendo a lógica populista de defender um câmbio sobrevalorizado, mas ela é só isso mesmo: populista.

    Sds

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    1. É isto mesmo, Medina. Contudo o ponto ideal do câmbio é acima do novo equilíbrio que teríamos com a criação do imposto sobre exportação de commodities agrícolas e minerais. Este imposto pode eliminar o efeito de doença holandesa, contudo temos que ir além disto e garantir a competitividade econômica internacional que acelera a industrialização. Este nível é calculado hoje em R$8,8. Abs, EG

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