Câmbio Flutuante, Agronegócio, Doença Holandesa e o país das Empregadas Domésticas

O objetivo da Economia é gerar riqueza para o país. Toda regra macro-econômica deve possuir uma lógica que garanta o aumento de riqueza. No Brasil temos uma série de tabus que atrapalham este processo. O tripé macro-econômico estabelecido é mais um problema. Foi implementado por um setor econômico querendo defender seus interesses, e não a criação de riqueza no Brasil. Fez isto colocando meta de inflação (liberando o uso do juro) e superávit primário, ao invés de nominal, protegendo o uso do juro. Este tema deu nas consequências do post anterior: R$3 trilhões de perdas 2014-2016.

O câmbio flutuante vem de uma idéia de liberalismo, laissez-faire de conveniência, que é muito boa para combater moeda artificialmente valorizada, contudo é péssima para combater moeda naturalmente valorizada, que destrói os incentivos para a aceleração da criação de riqueza e industrialização do país. Doença Holandesa. Em 1977 The Economist criou este termo ao analisar a situação da Holanda, que vinha perdendo empregos em manufatura por causa da descoberta e uso de grandes reservas de gás natural a partir de 1959. A exportação destes recursos naturais de baixo nível de emprego valorizou a moeda a ponto de inviabilizar setores industriais que pagavam salários bem melhores. A inteligência e bom senso holandês neutralizou este fenômeno com ajustes em sua macro-economia. Países menos esclarecidos, que nunca entraram em processo de industrialização, ficaram marcadamente atrasados em economia, ao serem cegamente liberais no uso de suas “riquezas” naturais: Arábia Saudita e países do Oriente Médio, Venezuela, Portugal e agora Brasil.

E o caso do Brasil sempre dá para piorar com alguma idéia muito criativa como o caso da Lei Kandir, que dá isenção tributária para exportação de commodities agrícolas e minerais.

No Brasil a exportação de commodities agrícolas e minerais pagam poucos impostos (basicamente IR/CSLL), usam excessivamente nossa infra-estrutura para transporte, geram poucos empregos, a maioria de baixo valor agregado com salário médio abaixo da média nacional, concentra renda nas mãos dos proprietários de terras ou jazidas, ficam reclamando e pedindo mais recursos para a infra-estrutura E valorizam nossa moeda a ponto de não deixar desenvolver ou destruir o setor industrial que paga salários bem acima da média nacional, gera mais empregos e paga mais impostos. Desde a Lei Kandir nossa manufatura caiu de 25% do PIB para 9%.

Somos o país das empregadas domésticas ao ter salário médio de R$1,8K/mês. Muito abaixo da média da indústria. E os deseconomistas deste país chamam o industrial brasileiro de improdutivo, apesar de gerarem empregos melhores para as empregadas domésticas.

Este é o Brasil que o câmbio flutuante está produzindo. Uma simples regra liberal, sem os devidos ajustes do bom senso de ter que gerar riqueza, cegamente destruindo um país.

Para solucionar isto temos que impor altos tributos na exportação de commodities agrícolas e minerais (40%) e colocar o câmbio em nível de competitividade econômica internacional calculado em R$8,8. O agronegócio pedindo recursos para a infra-estrutura, sem recolher tributos, parece os padres que não pagam impostos pedindo financiamento de BNDES para construir os templos. Direitos sem responsabilidades. Este Brasil não funciona. Temos que trabalhar com a Verdade.

 

Publicado por

Eduardo Giuliani

Edu é místico* e empresário nos setores de agronegócio, bioenergia, venture capital e imobiliário. Trabalhou como consultor pela McKinsey & Co. (1991-97) e investidor pela Advent International (1998-99). Iniciou estudos sobre crescimento econômico em 1994 com o Curso National Economic Strategies de Bruce R. Scott na Harvard Business School (Membro do U.S. Competitiveness Policy Council). Cursou System Dynamics no MIT (1994). Liderou trabalho de produtividade em Telecomunicações e Construção no McKinsey Global Institute (1997). Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP (1989). MBA pela Harvard Business School (1995). Tenente da Reserva do Exército (1985). Casado. Três filhos. Tri-atleta. * místico é uma pessoa que aborda os mistérios da vida através do método científico, sem aceitar dogmas e ideologias. Método científico sendo o processo de fazer análises de evidências empíricas sem ter conflito de interesse.

8 comentários em “Câmbio Flutuante, Agronegócio, Doença Holandesa e o país das Empregadas Domésticas”

  1. Eduardo, parabéns pelo Blog, muito bem escrito e objetivo nas ideias. Gostaria de entender melhor a teoria da desvalorização cambial. Com a moeda no nível proposto (8,80) não teríamos um desequilíbrio constante na curva de oferta e demanda, uma vez que seria mais interessante exportar o produto a vender no mercado local? Como produzir bens que necessitam de insumos importados?

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    1. Insumos importados não afetam nosso custo em USD. Para exportação dá na mesma. Para consumo interno vamos procurar substituí-lo por outro nacional. A desvalorização na prática só reduz o custo de nossa mão-de-obra e dos impostos no valor agregado do produto: diferencial brasileiro que afeta nossas vidas aqui no Brasil.

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  2. Eduardo, parabéns pelo Blog, bem escrito e objetivo nas ideias. Gostaria de entender um pouco melhor a questão da desvalorização cambial. Com a moeda nesses níveis (8,80) não teríamos um desequilíbrio constante na curva de oferta e demanda? Não seria muito mais interessante exportar do que vender no mercado local? Como esse equilíbrio serio retomado no médio prado (li em outro artigo no blog)?

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    1. Oi Arthur. Agradeço pelo comentário. Crescimento é feito pelo desequilíbrio. Se houver equilíbrio não há porque crescer. A demanda tem que ser maior do que a oferta para haver o incentivo econômico para empresários investirem e continuarem a gerar emprego e renda. No contexto de equilíbrio o aumento de produtividade (vindo do foco dos empresários em aumentar o lucro) vai reduzindo o emprego. Este nível cambial reduz nosso custo em USD impulsionando a demanda via mercado externo (exportação) e substituição de importações no mercado interno. Queremos atender as duas oportunidades maximizando emprego para brasileiros, nossa comunidade.

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