O Brasil neste momento encontra-se dividido (12/2006). De um lado a chamada opinião pública, uma parte da população brasileira capaz de ouvir, ler e entender o que está acontecendo. Do outro lado uma grande parte dos brasileiros que possuem analfabetismo funcional, que só entendem e confiam naquilo que entra na boca ou no bolso. O segundo grupo definiu a última eleição de tal forma que ficou relevado a segundo plano questões de ética política. Contudo ambos os grupos fazem parte do mesmo navio: O Democracia Brasil.
No grupo da opinião pública está uma classe média enfrentando crise de renda, desemprego, desilusão política, divórcio, violência, insegurança, desalento. É triste fazer parte desta classe média. Vendo o mundo inteiro andar bem, crescendo, melhorando de vida, e o Brasileiro, caindo. Uma vergonha. É o efeito do baixo crescimento econômico, de uma política cambial equivocada (o câmbio chinês/asiático é superior a R$5,47). A questão dos juros altos é um mero detalhe em tudo isto, quando comparado com o tamanho do estrago do câmbio no crescimento da economia como um todo: agronegócio, exportações, importações etc. Contudo é exatamente o mesmo erro da política dos juros que impede que os economistas alterem a política cambial: o argumento do “medo” da inflação. Este tal de “medo da inflação” está deixando a economia morna, em banho maria, e causando a crise econômico-social da classe média ao segurar o câmbio sobrevalorizado.
Este país chegou a colocar 200.000 pessoas na Avenida Paulista para apoiar a primeira eleição de Lula em 2002. Em 2006 parece que não chegou a 20.000. Reeleito sem entusiasmo. Para um político que, considerando a hierarquia de necessidades de Maslow, deveria estar no estágio de auto-realização, é um desempenho bem aquém do desejado. O principal ativo de um líder político é a energia positiva que emana do povo ao admirá-lo por sentir que está sendo ajudado, por vê-lo como um exemplo. Este tipo de emoção tira lágrimas de um líder, e um compromisso de fazer cada vez melhor, dar o melhor de si, deixar um legado. Esta é uma felicidade genuína que o dinheiro não compra. Pode escolher qualquer líder empresarial brasileiro. Nenhum. Digo, nenhum consegue atingir este nível de felicidade: admiração de 185 milhões de pessoas. Estilo Bill Clinton. Sucesso empresarial e dinheiro não compram este tipo de poder. Desempenho político sim. É a Felicidade de deus.
Entre os poucos brasileiros com acesso a este tipo de felicidade, Lula está na frente da fila. Por que deixar a oportunidade passar? Será que ele esteve realmente envolvido com toda a roubalheira e falcatrua de Palocci, Dirceu e Associados? A resposta simples é que sim. A resposta complexa é talvez não. Simplesmente deixou acontecer. Sempre foi assim. É possível entender as ambições deste primeiro escalão sem patrimônio político do nível do Lula. Para alguém com patrimônio político e acesso a oportunidade de Felicidade de deus, seria dar um tiro no próprio pé. Mais lógico imaginar que “bobeou”.
Bobeou na primeira tentativa. Agora só tem mais esta segunda chance nos próximos 4 anos.
A estratégia econômica do primeiro governo venceu eleição mas não atingiu nem de perto a Felicidade de deus, que colocaria mais de 200.000 na Avenida Paulista ou em qualquer outro canto do Brasil. Como atingí-la? A estratégia é simples: basta melhorar o padrão de qualidade de vida da vasta maioria dos brasileiros, ou seja, fazer o país crescer o mais rapidamente possível a qualquer custo (inflação é um deles). Apesar da inflação não ser um problema tão crítico quanto os economistas-banqueiros afirmam (grupo dos juros altos), visto que é uma simples medida de aumento de preços. Para um país que não ligou para a ética em uma eleição, com certeza nunca ligará para um tema menos relevante como inflação, desde que o poder de compra melhore.
Não há como atingir crescimento econômico rápido sem ter inflação. A questão é econômico-matemática: o aumento de demanda que gera crescimento é, por definição, um desequilíbrio entre demanda e oferta, que na economia de mercado reflete em inflação. Não há como atingir Felicidade de deus sem crescimento econômico com inflação. Qual será a decisão de Lula?
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