Keynes escreveu durante a Grande Depressão a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Uma das principais obras econômicas da História. Lançou a fundamentação da macro-economia. Seu estilo difere dos textos econômicos modernos do mainstream pois seus conceitos são expressos quase que inteiramente em prosa com pouca modelagem matemática explícita, seguindo a prática de Alfred Marshall e seus outros sucessores de Cambridge, Inglaterra, na década de 1930. Essa abordagem não é acidental nem deficiente, visto que Keynes (um matemático por treinamento) critica o uso da matemática na economia para esconder argumentos fracos por trás de notações matemáticas. Bom senso.
A riqueza de uma economia é feita através do conhecimento nos cérebros dos cidadãos assim como nos ativos construídos no país. Isto só pode ser maximizado através do pleno uso dos recursos disponíveis. Pleno emprego, pleno uso das terras, dos equipamentos e da infra-estrutura. Desemprego e ociosidade de uso dos recursos naturais renováveis (terra, água e sol) e equipamentos é perda de tempo no caminho para o desenvolvimento e melhoria de vida dos cidadãos. O Brasil é o país do desperdício de tempo de seus cidadãos e de seus recursos. Tempo perdido é tempo perdido. Não volta atrás.
Neste contexto do bom senso econômico Keynes demonstra que em momento de depressão (ociosidade de mão-de-obra), compensa alocar recursos para ocupar esta mão-de-obra em atividades produtivas que terão valor no futuro como, por exemplo, obras de infra-estrutura. Criar uma dívida em cima de algo com capacidade de pagamento futuro faz todo sentido inclusive contábil. Deste conceito vivem os empresários que investem anos em negócios que ficarão lucrativos no futuro. Deste conceito vive o agricultor que investe no plantio para se beneficiar da colheita.
Desrespeitando macroeconomia e bom senso, nosso BC induziu esta depressão que estamos vivendo. Em 2012 tínhamos déficit nominal de R$109B (2% do PIB), juros caíram até 7,25% e crescemos 3% em 2013. Ambiente econômico equilibrado e com juros declinantes. No segundo trimestre de 2013, após as manifestações, o BC se viu no direito de elevar os juros até 14,25%. Este efeito reduziu a arrecadação tributária, elevou as despesas com juros para R$500B, criou as despesas com “subsídios” (financiamentos de longo-prazo a taxas menores do que SELIC) e afundou o déficit nominal para R$613B (10% do PIB). Com esta virada de déficit o PIB virou 6,8% para -3,8% em 2015. Depressão induzida pelo BC. R$2 trilhões de perdas econômicas, eliminação de milhões de empregos e dezenas de milhares de mortes desnecessárias.
A argumentação deles vem em cima de risco de inflação. Usam os juros para diminuir o risco de inflação a qualquer custo. Não interessa o resultado no poder de compra dos trabalhadores e dos brasileiros. Interessa o poder de compra da moeda e talvez algum outro incentivo menos transparente do sistema rentista e financeiro. São os economistas que se escondem atrás de modelos matemáticos que Keynes desprezava. Usam uma planilha para justificar uma catástrofe. Certo não é o que dá certo, é o que parece certo para este grupo.
Menosprezo aos conceitos defendidos por Keynes pode ter sido um dos elementos que conduziram à 2a. Guerra Mundial. O Livro de Keynes faz 80 anos. O que menosprezo a Keynes vai causar ao Brasil?